sábado, 14 de janeiro de 2012

O silêncio dos quadros

Cada vez que eu entro em um museu e presto atenção nos quadros o que mais me impressiona, além das formas e das cores, é o silêncio deles. O mundo sem palavras dos quadros, mesmo sempre um mundo muito mais eloquente que o mundo real. Imediatamente abaixo da realidade, expressivo em suas composições de chaminés, marias-fumaças entrando na gare cheia de neve, campos de flores amarelas, mulher andando ao sol sob uma sombrinha, navio deixando o porto, um beijo longo e retorcido. E o silêncio. A substância dos quadros não é a cor, nem a forma, que mudam sempre de um para outro, mas o silêncio que em todos é o mesmo, absolutamente o mesmo – foi o que aprendi.

Auto-retrato com neve

O esboço da minha cabeça foi desenhado a lápis, até resultar um homem de cabelos ralos e com barba apenas no queixo, de olhos arregalados e cheio de bolsas, como os de um cavalo. A boca eu representei levemente aberta, como numa foto em que os movimentos são congelados sempre antes ou depois do tempo - sem a ilusão da boca fechada. Depois este mesmo esboço foi escondido aos poucos pelo óleo denso, em pinceladas que ora me desfiguravam, ora traziam os pelos de uma orelha ou uma ruga da testa para a tela. Optei por um branco pálido e levemente bege em alguns pontos da face, a dar a impressão da cor da pele pouco exposta ao sol. Dei expressão às rugas abaixo dos lábios com mais força do que a todos os outros traços, porque queria que resultassem graves, ou desenhadas pelo escândalo, como dos leitores de Bernhardt ou Cioran. Atrás de mim surgiu um alvo campo com um caminho curvo e galhos secos brotando da neve. A cada pincelada parecia menos eu, mas era mais eu.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Nenhum ser humano é ilegal




Foto numa das ruas de León, norte da Espanha, na época em que morava lá para estudar. Lá conheci o pessoal do Mal: Movimiento Antiglobalización de León (MAL).

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O artista é um sistema particular de associações

"Como o centro natural da perspectiva para todo o homem é o seu eu, sua série de estados de consciência - e o eu reduz-se a um sistema de idéias e de imagens associadas entre si de uma certa maneira -, segue-se que ver um objeto é fazer com que a imagem desse objeto entre em um sistema particular de associações, é envolvê-lo em um turbilhão de imagens e de idéias. Se esse turbilhão interior - que não é outra coisa que o eu do artista - encontra-se bastante poderoso, bastante amplo e bastante luminoso, tudo aquilo que for carregado por ele será penetrado de movimento e de luz. Uma alma vulgar, ao contrário, terá um olho vulgar e uma arte banal.
Guyau, Jean-Marie (2009), A Arte do Ponto de Vista Sociológico. São Paulo: Martins Fontes, p. 199.