segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O mundo perde em Porto Alegre 2

"Para os leoneses, assim como muitas outras pessoas no mundo todo (em Mumbai, na Índia, por exemplo, onde estive por ocasião do 4º Fórum Social Mundial) Porto Alegre representava a esperança de um mundo melhor, a construção de um planeta com menos exploração, pacifista, respeitador das diferenças étnicas, sexuais e culturais, um mundo mais justo e igualitário, ponto de resistência, no sofrido sul do planeta, à barbárie capitalista que devasta o mundo (basta conhecer a América Latina e a Índia para saber do que estamos falando). Porto Alegre tinha um diferencial. E estava no mapa do mundo por ser diferente de todas as experiências colocadas em prática até então. Agora, é igual a qualquer outra (...)".

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O mundo perde em Porto Alegre 3

A partir de 1999, com as manifestações contra a OMC, em Seatle, nos Estados Unidos, uma boa parte do mundo passou a viver um clima de mudança. Em 2001, Porto Alegre, uma pequena capital de um estado brasileiro, começou a ser vista como a grande possibilidade de “transformação do planeta”, em algo melhor. Aqui, a Frente Popular chegou ao poder e pôs em prática uma maneira revolucionária de dar poder aos habitantes da cidade.
Com o Orçamento Participativo, subverteu regras que não mudavam em termos de democracia desde, provavelmente, a Grécia Antiga. A democracia participativa e diversos outros mecanismos que possibilitaram uma verdadeira apropriação pública do Estado, com arrojadas políticas de inversão dos investimentos, fizeram de Porto Alegre um lugar especial. A ponto de, em plena ressaca neoliberal, dos anos que se sucederam à queda do muro de Berlim e a dissolução da União Soviética, Porto Alegre despontar no cenário mundial como a “inventora” da democracia que a esquerda ainda não tinha, uma democracia de qualidade, com substância, de alto impacto. O mundo ainda marcava passo no neoliberalismo.
Parecia que Porto Alegre andava no futuro, e inclusive com uma democracia própria. E em nada lembrando o chamado socialismo real de qualquer outro lugar. Mas o que isso significa? Em todo o mundo, a democracia parecia ser uma propriedade do capitalismo, enquanto que o socialismo era o terreno nas totalitariedades. De repente, o mundo descobre que se inventou nos Pampas um tipo de democracia que dava novos ares àqueles que desde que o mundo é mundo lutaram contra a exploração econômica, ambiental, cultural, sexual etc.
Descobriu-se no final do século XX que a democracia participativa vinha dando certo numa cidade grande e transformando a realidade de milhares de pessoas, principalmente as mais pobres, nas vilas, mas também chegando às áreas centrais da cidade. Passaram a vir estudiosos do mundo todo não só para saber do OP, mas das políticas ambientais, educacionais (que geraram um outro Fórum que também foi embora de Porto Alegre, o Fórum Mundial de Educação), gerenciais (um tipo de administração transparente e com diversos mecanismos de apropriação pública do Estado nunca experimentados nesta radicalidade) e outras.

O mundo perde em Porto Alegre

Contribuições para uma análise, escritas em 2004. Ainda atuais, nesses tempos de volta do FSM para Porto Alegre e região... Foi publicada pelo nosso amigo Renato Rovai na Revista Fórum, e em algumas outras. A seguir, partes.


"A possibilidade de o Fórum Social Mundial não ter mais sua sede permanente em Porto Alegre só surpreende aqueles que não entenderam o que estava por trás das eleições municipais dessa emblemática cidade, em que uma coalização de partidos de direita (de conservadores a neoliberais) derrotou a Frente Popular (PT, PC do B, PSB). Não se tratava de mudar ou não um governo exitoso de 16 anos. Não se tratava de fazer um experimento, para ver se a saúde e a segurança melhoravam.
Alguns elementos permaneceram ocultos nas eleições nessa capital de mais de um milhão de habitantes e em que essas áreas são reconhecidamente muito melhor conduzidas que em qualquer outro lugar do Brasil (um país pobre com uma cidade sui-generis, cujos Índices de Desenvolvimento Humano são
comparáveis até mesmo aos de muitos municípios europeus, graças a políticas arrojadas e instrumentos inovadores). Ocultos não apenas dos restantes dos habitantes do planeta, mas dos próprios porto-alegrenses.
Foi um embate entre dois mundos. De um lado o liberalismo econômico, a conservação da exploração do homem pelo homem para acumular lucro. De outro a tentativa de construir um mundo melhor, países afora, inspirada em grande parte na experiência de Porto Alegre, riqueza que muitos porto-alegrenses sequer chegaram a compreender. É isso o que deveríamos ter condições de enxergar neste momento: não o conheceram porque muitas vezes vivem presas de uma fantasia, uma realidade fabricada por poderosos grupos de comunicação locais e seus grupos econômicos aliados.
Não é de hoje que se sabe que o que aconteceu em Porto Alegre nesses 16 anos, e que motivou a vinda do Fórum para cá, é mais conhecido por uma infinidade de pessoas, movimentos sociais, partidos, sindicatos, associações e governos no mundo todo do que pela própria cidade em que tudo isso começou. Basta recuperar o que o maior jornal da cidade dizia do Fórum em seu primeiro ano, posição que gradualmente foi se modificando por força de uma contradição que se apresentava óbvia e ululante à frente dos moradores da cidade. Sempre diminuiu a importância do FSM, reduzindo-o a uma feira, importante para movimentar o comércio e os serviços locais em uma época em que a cidade estava vazia (as férias de verão). Pois bem, essa pouca importância contrasta frontalmente com o que ele verdadeiramente significa, para gente de diversos países do mundo, onde as cidades brasileiras mais conhecidas são Rio de Janeiro, São Paulo. E, desde 2001, Porto Alegre. E apenas essa última é lembrada só por seus aspectos positivos.
Passamos os primeiros seis meses de 2004 na Espanha. Mais de uma vez apresentados, eu e a fotógrafa Ana Paula Stock, não apenas como brasileiros, mas como pessoas que viviam em um lugar especial. Foram muitas as vezes que isso aconteceu. E uma dessas manifestações nos marcou profundamente. Uma amiga, emocionada, dizia a um grupo, em León, cidade no norte espanhol: “Esses são Jéferson e Ana Paula. Eles são brasileiros, mas, melhor ainda, eles são de Porto Alegre”. León é uma cidade de 170 mil habitantes, em Castilla y León, a quase cem quilômetros de Portugal. Uma cidade pequena, mas lá, assim, como em diversos municípios europeus, muitas pessoas não só conheciam Porto Alegre como entendiam o que aconteceu por aqui, talvez muito mais do que os próprios porto-alegrenses, conforme o que ficou expresso nas urnas de domingo (...)”.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O direito à cultura do outro

“Se ao invés de 8 mil policiais, a polícia do RJ enviasse para os morros 8 mil professores, teríamos um verdadeiro enfrentamento da violência”, avaliou ontem pela manhã o cordelista cearense Costa Sena. O músico e escritor esteve em Canoas, visitando a Biblioteca Pública Municipal João Palma da Silva e tocou, gratuitamente, no Calçadão de Canoas dentro da nossa Caravana Cultural, projeto que leva, desde o início do ano, todos os sábados, shows de distintas linguagens para todos os bairros da cidade. A vinda de Costa Sena a Canoas foi possível graças ao convite feito pela Câmara Rio-grandense do Livro para que ele participasse da 55a Feira do Livro de Porto Alegre.
Sena contagiou o ambiente da biblioteca e mostrou aos presentes a riqueza do intercâmbio cultural. Eu chamaria, com Teixeira Coelho, de o direito à cultura do outro. Há tanto tempo negado, de sul a norte, leste e oeste, desde o início do governo Lula, ele vem cada vez mais sendo garantido e realizado em todo o Brasil.

Banco de Livros

Uma grande idéia da Câmara Rio-grandense do Livro (CRL) pode se tornar um instrumento poderoso para a qualificação de acervos de bibliotecas públicas municipais no Rio Grande do Sul. O Banco de Livros é um projeto que utiliza a tecnologia dos bancos sociais (de alimentos, de materiais, de tecidos) no sentido de realizar uma grande campanha de arrecadação de livros que serão destinados a projetos de leitura de todo o Estado. A meta a ser atingida é de 500 mil livros. Aposto que se chega a mais. Parabéns, Waldir da Silveira e equipe da CRL!